• Redação Galileu
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O herói Pantera Negra é interpretado por Chadwick Boseman (Foto: Divulgação)

O herói Pantera Negra é interpretado por Chadwick Boseman (Foto: Divulgação)

O ano de 2018 ainda está começando, mas a Marvel já emplacou um de seus maiores sucessos: primeiro filme da produtora protagonizado por um herói negro, Pantera Negra bateu recordes de bilheteria em seu final de semana de lançamento e já arrecadou mais de US$ 426,6 milhões — superando toda a receita de filmes da empresa como Capitão América: O Primeiro Vingador. 

A história de T'Challa, líder do reino fictício de Wakanda que ganha os poderes de Pantera Negra para proteger o seu povo, ganhou elogios do público e da crítica especializada não apenas pela história bem contada e pelo visual impecável.

O filme também é histórico ao apresentar atrizes e atores negros como protagonistas, valorizando as particularidades culturais e históricas dos povos africanos para além dos estereótipos. Sem contar as personagens femininas do filme, que têm papel fundamental para o desenrolar da trama. 

Além disso, Pantera Negra é repleto de referências históricas, políticas e culturais que contam a trajetória do movimento negro nos Estados Unidos pela luta por direitos sociais. Assim como no Brasil, a sociedade norte-americana conviveu com a escravidão de seres humanos durante séculos, deixando cicatrizes ainda não curadas, como a segregação, a falta de oportunidades iguais e a desigualdade econômica entre brancos e negros (alguma semelhança com nosso país?). 

Ainda que dentro dos limites possíveis para um blockbuster que precisa ter fácil assimilação, algumas das cenas de Pantera Negra são uma tremenda lição para quem insiste em afirmar que o racismo não existe — de Donald Trump a exemplares de nossa política. Confira abaixo as principais referências (com quase nenhum spoiler): 

Baltimore, a cidade do Pantera Negra 
Na primeira cena do filme, é mostrado um flashback que acontece em Oakland, nos Estados Unidos. A escolha desse local não é por acaso: a cidade localizada no estado da Califórnia foi o berço do movimento do Partido dos Panteras Negras, que surgiu como reação após episódios seguidos de violência policial cometidos contra a população negra. 

Vale lembrar que em plena metade do século 20, alguns estados norte-americanos mantinham leis de discriminação racial que não eram diferentes daquelas praticadas pelo regime branco sul-africano do Apertheid ou das primeira leis segregacionistas da Alemanha nazista. Até a década de 1960, por exemplo, salas de aula, assentos de ônibus e bebedouros eram divididos para a população branca e para a população negra. 

Diante disso, movimentos e líderes negros lutaram por direitos de mínima igualdade civil. Alguns deles, como o pastor Martin Luther King Jr. (assassinado em 1968) pregava um ativismo pacífico pela conquista de direitos. Já lideranças como Malcolm X (assassinado em 1965) e os membros do Partido dos Panteras Negras acreditavam que apenas superariam a situação de opressão por meio de métodos revolucionários e violentos — em termos gerais, o personagem Killmonger (interpretado por Michael B. Jordan) é fruto direto desse cenário de tensão social. Ele é responsável por uma das frases mais fortes do filme, quando relembra os anos de escravidão sofridos pelos antepassados africanos.  

Foi apenas em 1964 que uma Lei de Direitos Civis foi promulgada nos Estados Unidos, que extinguiu as leis de segregação racial adotadas por alguns estados da federação. 

Martin Luther King Jr. em Washington (Foto: Wikimedia Commons)

Martin Luther King Jr. em Washington (Foto: Wikimedia Commons)

Fight the Power
Em uma das cenas que acontecem em Oakland, é possível ver um pôster com os membros do Public Enemy. Formada na década de 1980, o grupo de rap ficou conhecido por conta de suas letras politicamente engajadas e que criticam o racismo estrutural dos Estados Unidos. 

Wakanda para sempre!
Pantera Negra retrata a riqueza das etnias que compõem a África. De certa forma, o reino fictício de Wakanda é uma pequena utopia que representa as potencialidades de todos os países africanos por conta de seus recursos naturais. 

Aqui, vale outra pequena lembrança histórica: o cenário de guerras e instabilidades políticas que acompanharam a maior parte dos países africanos nas últimas décadas é consequência direta da ação das nações europeias, que colonizaram territórios africanos durante os séculos 19 e 20 e realizaram divisões territoriais sem levar em conta as particularidades étnicas, culturais e religiosas de cada povo.

Como consequência, as riquezas naturais continuaram sendo exploradas pelas empresas dos países ricos, enquanto grupos militares locais disputavam o poder dos territórios africanos.

Figurino impecável
Apesar da presença do discurso político e social, Pantera Negra surpreende ao retratar a diversidade cultural de todos os povos africanos. Dirigido por Ryan Coogler (que é negro), o filme apresenta trajes, máscaras e marcas corporais que são inspiradas em diferentes etnias. No Twitter, a usuária somaliana Waris mostra algumas das referências presentes no longa-metragem. 

Os trajes das guerreiras de elite de Wakanda, por exemplo, são inspirados no povo Maasai, que vivem no sul do Quênia e no norte da Tanzânia: 

Guerreiros Masai (Foto: Wikimedia Commons)

Guerreiros Masai (Foto: Wikimedia Commons)

Já os trajes coloridos utilizados por T'Challa são inspirados em algumas vestes do grupo étnico Akan, que vive no território que compreende Gana  — na África Oriental. 

Vestimenta tradicional dos Akan (Foto: Wikimedia Commons)

Vestimenta tradicional dos Akan (Foto: Wikimedia Commons)

Um dos conselheiros de T'Challa, que representa um dos grupos étnicos de Wakanda, possui um prato labial semelhante ao utilizado pelos Mursi: eles vivem no sudoeste da Etiópia e mantém tradições religiosas ligadas ao animismo — que entendem a relação entre o mundo espiritual e físico a partir da integração com a natureza (como é mostrado em algumas cenas de Pantera Negra). 

Representante do povo Mursi (Foto: Wikimedia Commons)

Representante do povo Mursi (Foto: Wikimedia Commons)

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