• Júlio Viana*
Atualizado em
  (Foto: Wikipedia/José Cruz)

(Foto: Wikipedia/José Cruz)

Um grupo de oito pessoas idealizou um projeto capaz de automatizar a fiscalização de cotas parlamentares através de um robô provido de inteligência artificial. Rosie, apelido carinhoso que faz referência ao robô dos Jetsons, é capaz de montar um banco de dados de irregularidades e, a partir dele, identificar se elas existem ou não nos pedidos de reembolso de deputados federais.

Os dados, disponíveis no site da câmara dos deputados, são analisados por Rosie e depois classificados como suspeitos ou não. Depois, um grupo de pessoas faz a análise manual de cada um deles.

Quando comprovada a suspeita, a denúncia é enviada à câmara dos deputados e uma auditoria é aberta. Até agora, o software conseguiu detectar mais de 3 mil reembolsos suspeitos, dos quais 849 foram auditadas por humanos. Inclusive, algumas restituições já foram feitas, como a do deputado Celso Maldaner (PMDB-SC), que devolveu 700 reais, referentes a refeições.

O projeto leva o nome de Operação Serenata de Amor, em referência a um famoso caso sueco, conhecido como Toblerone, quando uma ministra utilizou o cartão corporativo para fazer compras pessoais, entre eles, uma unidade do chocolate.

“A gente faz uma espécie de pente fino em problemas feitos por humanos”, diz a GALILEU Eduardo Cuducos, um dos idealizadores do projeto. Eles acreditam que, dessa forma, além de criar uma ferramenta eficiente para detectar anomalias, será possível repensar os modos como lidamos com os órgão públicos. “Temos o direito de decidir para onde vai essa verba que vem do nosso dinheiro, afinal”, explica ele.

Um dos líderes do projeto, Irio Musskopf, conta que o modo como eles treinaram Rosie é muito parecido com o processo de treinamento de um auditor humano: primeiro ensinar as leis e os casos em que existe irregularidade para depois passar à análise de dados.

“O treinamento aconteceu dando algumas dicas. Por exemplo, mostrando que há muitas irregularidades em refeições. Uma refeição de 220 reais que ocorre num restaurante de luxo não foge ao padrão. Mas em um lugar de beira de estrada, é suspeito” conta Musskopf.

Dessa forma, Rosie vai montando um banco de dados capaz de ser utilizado como fonte de referência em análises futuras. As informações vão desde preços incondizentes ao local indicado na nota fiscal, atividades que fogem ao padrão de determinado deputado a distâncias anormais entre cidades.

Justamente por causa dessa dependência de um banco de dados apropriado, uma das grandes dificuldades do projeto, no momento, é saber quais estão disponíveis e quais deles são úteis ou não ao aprendizado de Rosie.

Musskopf explica como seria útil ter, por exemplo, uma base com todas notas fiscais irregulares. Dessa forma, o software conseguiria ter um aprendizado muito mais rápido, em vez de ter ele mesmo que construir sua fonte de referência na base do erro e acerto.

Para analisar os dados, é baixada a tabela de reembolso disponível no site da câmara. Depois que essa tabela é processada e compactada, ela vai para o software, onde ocorre a análise. Para fazer isso, o robô utilizará os classificadores aprendidos. Classificador é como é chamado o modelo de inteligência artificial utilizado.

Indo linha por linha, Rosie irá verificar se o gasto pode ser irregular ou não. Dessa forma é gerada uma outra tabela com os resultados, que é publicada online em um site público. Lá, os auditores do projeto verificam uma por uma as suspeitas e abrem as denúncias quando necessário.

“Preferimos fazer isso manualmente porque assim podemos conversar com o auditor para entender porque ele não deu seguimento à denúncia”, explica o programador. Dessa forma, é possível refinar melhor o banco de dados de Rosie.

Na mesma página, é possível para qualquer usuário verificar quais informações o software utilizou para acusar o deputado. Por mais que o programa relacione dados em uma velocidade muito maior que um humano, as informações são disponibilizadas para tornar claro o processo utilizado por Rosie.

O grupo está agora abrindo um crowdfunding para financiar o projeto. Segundo eles, é possível estender o projeto não só para a câmara dos deputados, mas também o senado, prefeituras ou qualquer outro lugar onde exista o gasto de dinheiro por parte de pessoas físicas. “Estamos tornando a Rosie com código mais genérico, para extrapolar as suspeitas não só na câmara, mas também em outros lugares” conclui ele.

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