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Tensão no AP após invasão de garimpeiros e morte de cacique

28 de julho de 2019

Policiais chegam à terra indígena dos Waiãpi, e MPF investiga invasão de homens armados à área demarcada e assassinato de líder indígena. Entidades e políticos expressam preocupação e alertam para risco de tragédia.

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Índios Waiãpi em reserva indígena no Amapá, em foto de outubro de 2017
Índios Waiãpi em reserva indígena no Amapá, em foto de outubro de 2017Foto: Getty Images/AFP/A. Gomes

Agentes da Polícia Federal (PF) e do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foram enviados neste fim de semana à terra indígena dos Waiãpi, invadida por um grupo de garimpeiros e onde um líder indígena foi assassinado nesta semana.

A prefeita de Pedra Branca do Amapari (AP), cidade próxima à área demarcada, Beth Pelaes (MDB), confirmou ao jornal O Globo que as equipes das forças de segurança estavam no local na manhã deste domingo (28/07).

O Ministério Público Federal (MPF) do Amapá, por sua vez, informou que já está investigando a invasão de garimpeiros e a morte do cacique Emyra Waiãpi, de 68 anos. Segundo o órgão, agentes da PF e do Bope se dirigiram ao local "para evitar o agravamento do conflito".

De acordo com O Globo, citando a coordenação regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) no Amapá, a invasão dos garimpeiros à região começou a ocorrer na última terça-feira, 23 de julho. O corpo do cacique foi encontrado na quarta-feira de manhã. Relatos de indígenas aos quais o jornal teve acesso afirmam que Emyra foi morto a facadas.

Em nota publicada neste sábado, a Funai confirmou a morte e anunciou o envio de policiais federais e do Bope à região para apurar o ocorrido. O órgão disse ainda que tomou conhecimento do fato somente no sábado e logo acionou as autoridades competentes e seus servidores no local.

"Por ora não há registros de conflito, apesar de ter sido confirmado um óbito, mas não há detalhes das circunstâncias. O local é de difícil acesso", diz a nota. "Mesmo assim, a equipe da Funai e da PF permanecerão no local para garantir a integridade dos indígenas e apuração dos fatos."

A revista Época, contudo, afirma que a Funai já sabia do ataque à terra indígena dos Waiãpi desde sexta-feira, quando foi alertada pela coordenação do órgão no Amapá. Em memorando enviado à presidência da fundação, a coordenação regional afirmou que a "presença de invasores é real" e que o "clima de tensão e exaltação na região é alto".

O memorando pedia ainda que a chefia da Funai articulasse junto à PF e ao Exército o "planejamento e execução de ação emergencial para apurar denúncias tratadas neste processo".

Relatos da imprensa sugerem que os garimpeiros voltaram à terra indígena dias após a morte do cacique. A prefeita de Pedra Branca do Amapari afirmou à Época que cerca de 50 homens armados invadiram a demarcação dos Waiãpi no fim da tarde de sexta-feira e, na tarde de sábado, eles ainda permaneciam na região.

"Até o momento estão lá na aldeia. A gente ficou sabendo agora há pouco que estão ouvindo tiros. A gente está acionando o Ministério Público Federal, Polícia Federal, para evitar o pior. Os indígenas falaram que, se a Polícia Federal não chegasse até o anoitecer, eles iriam para o ataque, porque eles não querem perder a terra deles", disse Beth Pelaes à revista.

Segundo relatos, os invasores estariam na aldeia Yvytotõ, a aproximadamente 40 minutos a pé da aldeia Mariry, onde estão concentrados os indígenas, que foram obrigados a fugir após a invasão.

Em redes sociais no sábado, o senador Randolfe Rodrigues, da Rede do Amapá, denunciou o ataque à etnia e alertou contra o risco de uma "grande tragédia". "Os Waiãpi no Amapá estão em risco. Garimpeiros armados invadiram as terras e mataram lideranças indígenas. A PF e a Funai precisam agir imediatamente sob pena de uma grande tragédia acontecer."

Mais tarde, o parlamentar agradeceu à PF por atender às solicitações e deslocar agentes à terra indígena. "A situação é bastante grave! Estamos atentos na defesa dos povos indígenas", escreveu Randolfe no Twitter.

Também no sábado, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, do DEM do Amapá, pediu apoio aos indígenas. "Os esforços devem ser concentrados em garantir a segurança e o direito dos povos indígenas, que sempre viveram nessa região, direito garantido constitucionalmente", escreveu.

Entidades internacionais e personalidades brasileiras também expressaram preocupação com a situação no Amapá e exigiram providências das autoridades do país.

No Twitter, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) manifestou "preocupação com as informações recebidas sobre a possível presença de invasores armados no território do povo Wajãpi, Amapá". "Solicitamos a devida diligência do Estado brasileiro para proteger e prevenir possíveis violações de seus direitos humanos", completou o órgão.

O cantor Caetano Veloso, por sua vez, gravou um vídeo alertando para um "pedido de socorro dos índios Waiãpi, que estão sendo agredidos e ameaçados por garimpeiros nesse momento, no norte do Brasil". "Eu peço às autoridades brasileiras que, em nome da dignidade do Brasil no mundo, ouçam esse grito", afirmou o músico.

A terra dos Waiãpi fica a cerca de 300 quilômetros de Macapá, capital do Amapá, em uma área próxima à fronteira com o estado do Pará. Quase 1.300 indígenas da etnia vivem na região.

As denúncias da invasão de garimpeiros ocorrem no mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender a exploração de minerais em terras indígenas.

"Terra riquíssima [reserva indígena Yanomami]. Se junta com a Raposa Serra do Sol, é um absurdo o que temos de minerais ali. Estou procurando o 'primeiro mundo' para explorar essas áreas em parceria e agregando valor", disse o presidente em evento no Rio de Janeiro neste sábado.

EK/ots/afp/efe

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