Economia

No cenário externo, desaceleração da China terá forte impacto nas exportações brasileiras

Especialistas também citam afrouxamento fiscal como fator de risco

SÃO PAULO — As perspectivas para o cenário externo neste segundo semestre também mostram reflexos desfavoráveis para a economia brasileira. Enquanto os Estados Unidos recuperam seu vigor, a China, que vinha puxando o crescimento mundial, coloca o pé no freio e não deve mais crescer num ritmo de dois dígitos. O reflexo disso, explicam economistas, será sentido no preço das commodities, principal produto da exportação nacional.

— O crescimento mais lento na China pode derrubar o preço das commodities. Dessa forma, o já crescente déficit em conta corrente brasileiro tende a piorar — afirma André Lóes, economista chefe do HSBC.

Na conta de economistas, há ainda um fator extra de preocupação no balanço da economia brasileira. A credibilidade do governo Dilma Rousseff está em xeque por uma série de desencontros. O uso da chamada “contabilidade criativa” para melhorar a aparência dos resultados das finanças públicas nos últimos dois exercícios pesou negativamente.

Os economistas também identificam uma falta de sintonia entre a política fiscal praticada por Brasília, com aumento de gastos, e a política monetária mais austera, com alta de juro para conter inflação.

— Com a contabilidade criativa, para não usar a palavra truque, o governo poderá fazer o superávit primário (economia para pagar juro) que quiser. Estimo que o resultado primário fique em torno de 1,8% (do PIB), bem abaixo dos 2,3% que o ministro Guido Mantega vem prometendo — calcula José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados.

Até a maneira como o governo responderá às manifestações de rua é citada como mais um fator de risco à economia.

Octávio de Barros, economista chefe do Bradesco, diz, por exemplo, que o governo poderá responder aos protestos “com mais afrouxamento fiscal”. Segundo ele, se isso ocorrer, a meta do superávit primário ficará ainda mais distante.

— Nossa projeção para o resultado primário do setor público é de 1,7% do PIB — estima Octávio de Barros.

Lóes, do HSBC, coloca outro ponto de vista em relação às incertezas que as manifestações trazem à tona. Para ele, os movimentos podem impactar a confiança dos empresários e reduzir ainda mais as decisões de investimentos.

— Mas não acreditamos que as manifestações impliquem um risco institucional no Brasil — pontua.

Com o sinal amarelo aceso para o crescimento econômico anual no início deste segundo semestre, também já começa crescer a preocupação com o desempenho da economia em 2014.

Alguns bancos e consultorias começam a rever suas projeções para o novo ano. O número para o PIB esperado inicialmente era de 3%, mas apostas no patamar dos 2% já começam a pipocar.

— Infelizmente, a média do crescimento do governo Dilma Rousseff será de 2%. Disso ela não vai conseguir escapar — completa Mendonça de Barros. (J.S.N e R.S)