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A família que largou tudo para dar a volta ao mundo sobre rodas

Marta Bruyel, Daniel Gimeno e seus três filhos pequenos começaram em dezembro uma viagem que durará seis anos

Guillermo Reparaz
O veículo com que a família pretende dar a volta ao mundo.
O veículo com que a família pretende dar a volta ao mundo.M. B.

Depois de milhares de quilômetros juntos e muito tempo pensando nisso, Marta Bruyel, de 38 anos, e Daniel Gimeno, de 42, decidiram largar tudo para dar a volta ao mundo com seus três filhos de um, quatro e seis anos. Ficam para trás o colégio, o apartamento e a oficina de chaveiro que sustentava a família, mas também os congestionamentos, o ruído e a capa de poluição que pousa sobre Madri semanalmente. A primeira parte de sua viagem, que começou em dezembro, pretende percorrer toda a América, da Patagônia ao Alasca, em dois anos. Depois, usarão outros dois anos para viajar pela Ásia, e outros dois para conhecer a África.

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Mas até as façanhas mais românticas têm suas complicações. A família teve que aprender a conviver no espaço de oito metros quadrados do caminhão, além de lutar com o nervosismo dos pequenos, aos quais foi preciso “trazer de volta à terra”, como conta Bruyel por videoconferência durante uma parada no sul do Chile, enquanto as crianças acenam de dentro do veículo. “Tentamos que elas tenham uma rotina dentro da qual nunca haja um dia igual a outro”, explica a mãe.

Depois de acordarem e tomarem o café da manhã, os mais velhos, Tao e Dhara, têm escola. Ela se encarrega de lhes ensinar a somar, subtrair e ler, enquanto Gimeno cuida do pequeno Erik. Por enquanto, ela segue o conteúdo dos livros que seus filhos haviam começado a usar no começo do atual ano letivo, em setembro de 2018. A partir do segundo semestre, Tao estará matriculado no programa de ensino à distância do Ministério de Educação da Espanha. Terá que acompanhar os conteúdos regulamentares para depois se submeter a provas por via telemática. Os pais, porém, valorizam mais o aprendizado que não aparece nos livros didáticos, como a capacidade de comunicação ou tudo aquilo que vão encontrando pelo caminho. “Os temas de ciências naturais os passo para eles, claro.”

Embora tenham esboçado um itinerário, Bruyel reconhece que não é fácil planejar uma viagem tão longa. “Queremos parar para conhecer como as pessoas vivem em outros países”, conta a mãe, que se propôs a gravar uma série de documentários para ajudar a custear essa expedição que, por enquanto, vai adiante graças às economias familiares. Depois que o caminhão deles chegou a Montevidéu, no final de 2018, rumaram para o sul, a fim de visitar o extremo do continente. A família passou o Natal em Sierra de la Ventana, na província argentina de La Pampa, onde as crianças pintaram alguns cartazes para colar no caminhão e evitar que o Papai Noel se perdesse com tanta mudança. Também os Reis Magos souberam encontrá-los no meio do nada na província de Rio Negro, na Patagônia argentina, uns mil quilômetros ao sul de Buenos Aires. O aniversário de Bruyel colheu a família em Ushuaia, ao sul do estreito de Magalhães. Depois, seguiram para o norte, para conhecer a Patagônia chilena e o glaciar Perito Moreno.

‘Los Mundo’ na geleira Martial, em janeiro.
‘Los Mundo’ na geleira Martial, em janeiro.M. B.

Antes de começarem a aventura, Los Mundo, como a família se apresenta nas redes sociais, já tinham feito o teste de como é viajar com crianças. Em 2017 visitaram Tailândia e Vietnã com seus dois filhos, e no ano passado percorreram Marrocos numa caminhonete em que também dormiam. Foi no Vietnã que o casal se convenceu das vantagens de fazer essa viagem. “Vimos nossos filhos brincarem com crianças vietnamitas e nos demos conta da capacidade de se comunicarem com a brincadeira que haviam adquirido”, explica.

A Internet, embora nem sempre acompanhe como eles esperavam, está permitindo à família manter o contato com os seus. Tao e Dhara escrevem com frequência aos colegas de classe, mas sua mãe conta que se lembram mais das famílias que foram encontrando no caminho. Os cinco enviam vídeos periodicamente aos avós, que nem sempre foram compreensivos com a decisão do casal. “Meus pais lançaram toda a artilharia quase até o último dia”, afirma ela com ironia. A próxima vez que os avós virem seus netos será em meados deste ano, mas não na Espanha. Marcaram encontro no Peru.

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