• Redação Galileu
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A bactéria Staphylococcus aureus é causadora da fasceíte necrotizante. (Foto: NIH)

A bactéria Staphylococcus aureus (Foto: NIH)

Um dia, no futuro, você poderá tomar uma pílula para tratar uma doença e agradecer a minúsculos micróbios encontrados no muco escorregadio que reveste os peixes pela recuperação. A previsão é da professora assistente de química da Universidade Estadual de Oregon Sandra Loesgen, que está realizando estudos para possibilitar uma nova geração de antibióticos.

A incidência de infecções bacterianas resistentes aos antibióticos atuais está aumentando. A Organização Mundial da Saúde alertou que o problema se tornará mais grave, e um estudo recente prevê que, até 2050, as infecções resistentes a medicamentos afetarão mais pessoas do que o câncer.

De acordo com Loesgen, mais de 70% dos antibióticos utilizados atualmente foram derivados de substâncias químicas naturais geradas por plantas e micróbios, que são capazes de produzir compostos químicos com propriedades antibióticas ou antivirais. Um exemplo é o antibiótico amoxicilina, um dos mais comumentes prescritos. Ele é derivado de uma substância química isolada do fungo Penicillium.

Tanto humanos como animais hospedam uma comunidade diversa de micróbios na pele e dentro do sistema gastrointestinal. Esses micróbios podem interagir com seus organismos hospedeiros de maneiras positivas e negativas, seja ajudando na digestão ou contribuindo para alguns tipos de doenças.

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Mas eles também podem ser uma fonte de novos antibióticos, como no caso de pesquisadores que identificaram recentemente um novo antibiótico de uma bactéria encontrada no nariz humano.

A pesquisa de Loesgen na Universidade Estadual do Oregon é voltada para os micróbios encontrados em peixes marinhos e de água doce. Esses animais geralmente vivem em ambientes desafiadores e tendem a suportar micróbios que os ajudam a resistir a infecções. O muco viscoso que reveste os peixes atua como uma barreira física protetora, conforme o animal se move na água e entra em contato com todos os tipos de bactérias, fungos, vírus e mais.

Dossiê - Superbactérias (Foto: Studio Oz / ilustração Mariana Coan)

(Foto: Studio Oz / ilustração Mariana Coan)

Durante o estudo, 47 grupos bacterianos dessas amostras de muco de peixe foram isolados, cultivados e depois tiveram os produtos químicos produzidos extraídos, para serem colocados à prova se eram capazes de inibir agentes infecciosos humanos comuns. Descobriu-se que vários extratos bacterianos tiveram atividade antimicrobiana, com 15 extratos exibindo forte inibição de Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA). O MRSA é um agente infeccioso humano resistente a medicamentos e é responsável por muitas infecções difíceis de tratar.

Motivados por esses achados, os pesquisadores testaram se os compostos desses extratos também poderiam afetar as células cancerígenas e descobriram que a bactéria Pseudomonas, derivada de peixes, estava produzindo um metabólito que inibia o crescimento de células do câncer de cólon humano.

Loesgen e outros pesquisadores continuam a realizar novos estudos. Mas os resultados atuais sugerem que os micróbios associados ao peixe produzem uma ampla gama de substâncias químicas diversas e complexas e são uma excelente fonte para os esforços de descoberta de  medicamentos.

Traduzido e condensado de The Conversation.

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