• Fabiana Pires
  • Fabiana Pires
Atualizado em
Mark Bowden, diretor geral da Hays para Sul da Europa e América Latina (Foto: Divulgação Hays)

Mark Bowden, diretor geral da Hays para Sul da Europa e América Latina (Foto: Divulgação Hays)

A produção industrial do Brasil preocupa. Primeiro, porque a atual situação do câmbio é insustentável, segundo especialistas da área. Não dá para tornar os produtos brasileiros competitivos lá fora, quando eles são vendidos a um preço muito maior que a concorrência. Depois, porque o desempenho do setor deixa a desejar. No primeiro trimestre, a indústria foi um dos grandes responsáveis por um Produto Interno Bruto (PIB) baixo, de 0,6%, na comparação com os últimos três meses do ano passado. O resultado foi exatamente o mesmo obtido no último trimestre de 2012, quando o Brasil cresceu 0,9% - número que deixou o governo e investidores bastante apreensivos. Um terceiro motivo para a preocupação é o fato de que, apesar de tudo isso, os salários dos altos executivos só aumenta.

A avaliação é de Mark Bowden, diretor geral da consultoria Hays para o Sul da Europa e América Latina. E ele destaca: não é uma crítica, é apenas uma análise de quem vê de fora e pode comparar os resultados obtidos aqui com os registrados em países desenvolvidos. A análise está no Guia Salarial Brasil 2013, uma pesquisa desenvolvida em parceria com o Insper, realizada nos primeiros três meses do ano. Com 700 empresas e 7,5 mil profissionais entrevistados, o estudo apresenta um termômetro do mercado de trabalho brasileiro focando, principalmente, nos funcionários que ocupam cargos altos em companhias.

A questão dos salários praticados no país foi um dos pontos da pesquisa que mais chamou a atenção dos especialistas. De todos os entrevistados, mais de 55% recebeu um aumento em sua remuneração em 2012. Na maior parte dos casos (64%), esse acréscimo ultrapassou os 5,5%. Os dados fazem sentido se comparados aos divulgados pelo Dieese no início de maio: de cada 10 reajustes salariais concedidos, quase 9 foram acima da inflação.

Segundo Bowden, o salário dos executivos no Brasil ultrapassa o de profissionais de países como Bélgica e pode ser comparado com o que a alta cúpula de empresas da Itália e da Alemanha recebem. "Os membros de quadros superiores daqui ganham tão bem quanto os europeus, diz.

Salário Empresa Carreira Gestão Aumento Salarial Investimento (Foto: shutterstock)

Salário dos executivos brasileiros ultrapassa o de profissionais de países como Bélgica e pode ser comparado com o que a alta cúpula de empresas da Itália e da Alemanha recebem  (Foto: Shutterstock)

O especialista da Hays afirma que não dá para saber, com certeza, quais os motivos das empresas para aumentar os ganhos de seus altos funcionários. Não é possível afirmar se é por causa do aumento da demanda por uma mão de obra qualificada ou se é uma questão de negociação trabalhista. "Supostamente, em teoria econômica, o salário aumenta quando a produtividade aumenta e existe um desalinhamento disso no Brasil", diz Regina Madalozzo, professora do Insper.

Para ela, uma das prováveis explicações  para esse efeito é o fato de existir um excesso de procura por profissionais preparados e uma oferta muito baixa destes. Resumindo: as empresas brasileiras têm medo de perder seus executivos. "Elas temem não conseguir recrutar alguém que seja, no mínimo, tão bom quanto àquela pessoa que ocupa determinado cargo. Isso ocorre mesmo quando elas não estão tão satisfeitas com o profissional que possuem", explica.

Melhorar a educação e apostar na capacitação de profissionais é uma das soluções apontadas por Bowden para a questão. Incentivar a vinda de estrangeiros, outra. Nesse último caso, no entanto, o diretor aponta que seria preciso um trabalho extra do governo, pois são muitas as dificuldades que alguém de fora passa por aqui. "É uma língua diferente, a entrada no país é difícil e também existe a maneira como o Brasil é visto lá fora. A questão da segurança é uma das que mais assusta e é uma coisa na qual o governo precisa investir".

Os altos custos de vida no país são outro fator que espanta os profissionais estrangeiros, segundo Bowden. A questão, explica ele, não é só o salário nominal. "Muitos vêm para cá achando que vão ganhar bem, mas aí vêem os gastos necessários para sobreviver e começam a achar que ganham mal".

Diferenças
Se por um lado os executivos brasileiros ganham mais ou tão bem quanto os europeus, por outro, os funcionários de quadros mais baixos das empresas estão bem atrás dos de países de primeiro mundo. "O salário mínimo do Brasil não chega à metade do salário mínimo de alguns países da Europa", afirma Bowden. Para ele, é importante para o Brasil tentar diminuir essa diferença. "Existe muito menos desigualdade entre as remunerações no nível mais baixo e no nível mais alto das empresas da Europa".