Cultura

Mostra no CCBB reúne 300 fotos para contar a história do Brasil

Com curadoria de Boris Kossoy e Lilia Schwarcz, 'Um olhar sobre o Brasil' tem registros de 1883 a 2003

Ação militar no centro do Rio de Janeiro (1964), a imagem feita por de Evandro Teixeira é uma das favoritas dos curadores da mostra. Para eles, a realidade é melhor do que a ficção
Foto: Divulgação/Acervo Evandro Teixeira
Ação militar no centro do Rio de Janeiro (1964), a imagem feita por de Evandro Teixeira é uma das favoritas dos curadores da mostra. Para eles, a realidade é melhor do que a ficção Foto: Divulgação/Acervo Evandro Teixeira

RIO - Há cerca de três anos, o professor da USP Boris Kossoy e a antropóloga Lilia Schwarcz receberam da Fundação Mapfre um desafio histórico: contar 170 anos de Brasil — mais precisamente entre 1833 e 2003 — através de registros fotográficos. Ciente do gigantismo da proposta, a dupla montou uma equipe de trabalho e passou a vasculhar acervos públicos e privados de todo o país. “Fomos de Belém a Curitiba”, dizem eles, que ainda acharam que era pouco. Resolveram cruzaram o oceano atrás de fotos feitas, por exemplo, por Augusto Stahl (1828-1877) no Brasil do século XIX.

No percurso, acharam pérolas. Entre elas, o clique de Evandro Teixeira à direita — uma das imagens preferidas de Lilia em toda a pesquisa.

— Essa imagem, chamada “Ação militar no Centro do Rio”, é de 1964 e comprova que a realidade é bem melhor do que a ficção — diz ela.

O resultado da pesquisa de Kossoy e Lilia poderá ser visto a partir de amanhã no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Batizada como “Um olhar sobre o Brasil. A fotografia na construção da imagem da nação”, a amostra chega ao Rio depois de ter levado cerca de 70 mil pessoas ao Instituto Tomie Ohtake em São Paulo e ficará por aqui até abril.

— A proposta é abrangente seja por sua diversidade temática seja pelo período histórico que abarca ou pela multidisciplinaridade em que se desenrola a narrativa — afirma Kossoy, acertando os últimos preparativos para a abertura. — O que, de fato, importa é o impacto ou identificação que certas imagens causam aos diferentes espectadores.

Dividida em sete períodos, a exposição percorre os períodos históricos segundo eixos temáticos: política, sociedade, artes e cultura, e paisagem. Começa lembrando o visitante que, nos primórdios da fotografia no Brasil, ela estava imbuída de um “olhar científico”. Servia, por exemplo, para registrar expedições estrangeiras como a que o francês Antoine Hercule Romuald Florence fez na vila de São Carlos (Campinas) em 1833. Nessa seção, os curadores lembram a quantidade de fotógrafos que cruzaram o país no século XIX para conhecer a fundo o Império.

Mais à frente, a mostra revela o interesse de D. Pedro II pelo assunto. Há imagens da Guerra de Canudos e de outras revoltas do século XIX, além de cliques que revelam o cotidiano das famílias da elite de então. No mesmo espaço, ainda aparecem os retratos de estúdio, com cenas posadas. É a vez de Stahl e os escravos — como na imagem oval que também ilustra esta matéria.

Entrando pelo século XX, a fotografia pula para as páginas dos jornais e acompanha movimentos como a participação da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial, a construção de Brasília, as Diretas Já e a atuação de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva.

Uma imagem, uma história

Em “Um olhar sobre o Brasil”, cada foto é acompanhada por um texto que narra sua história e dá ao visitante subsídios para se aprofundar nas tradições sociais e culturais da época. Com isso, o passeio pode durar até quatro horas.

— Por trás de cada imagem há uma história a ser desvendada e considerada — ressalta Kossoy. — Passamos a “ver” certos fatos e situações segundo o olhar do fotógrafo, que, por vezes, é um independente, por vezes, dirigido.

— Assumimos uma tarefa gigante quando nos propusemos a contar 170 anos de Brasil. A foto entrou aqui relativamente cedo, e sabemos que o total de registros feitos no país nesse período é quase duas vezes maior do que os de Chile e Argentina — diz Lilia. — O Brasil é imenso, e as fotos refletem sua diversidade. Por isso é que batizamos a exposição como sendo “um” olhar sobre o Brasil. Não é o definitivo.