• Micaela Cristina dos Santos
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A startup Mora, fundada por Arthur Norgren e Kyle Paul Moran, oferece apartamentos modulares pré-fabricados com pouco uso de água e produção de resíduos (Foto: Eduardo lopes)

A startup Mora, fundada por Arthur Norgren e Kyle Paul Moran, oferece apartamentos modulares pré-fabricados com pouco uso de água e produção de resíduos (Foto: Eduardo lopes)

A construção civil é um dos setores mais afetados pela crise econômica iniciada em 2014. A falta de investimento do setor público provocou uma queda acentuada no número de obras públicas e uma baixa na compra de imóveis, com repercussões negativas em outros segmentos da economia.

A redução da atividade também gerou reflexos no mercado de trabalho e na geração de negócios. Dados mais recentes da Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o número de empresas ativas no ramo da construção civil diminuiu de 126.880, em 2016, para 126.316, em 2017 . Desde 2013, período pré-crise, o setor perdeu mais de 800 mil postos de trabalho, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Cagead).

Foi nesse cenário que começou a surgir uma onda de novos negócios voltados para a construção civil. Além de ocuparem o espaço deixado pelas empresas que fecharam ou reduziram suas atividades, as startups trazem algo que faz muita falta ao setor, tradicionalmente conservador: inovação e novas tecnologias. De acordo com estudo feito pela Harvard Business Review, a construção civil é um dos ramos que menos investe em pesquisa e desenvolvimento.

Um mapeamento realizado pela Terracotta Ventures mostra que o Brasil conta com mais de 500 construtechs e proptechs (startups dedicadas ao setor imobiliário). “Cada vez mais surgem startups que produzem soluções, como softwares e tecnologias, proporcionam eficiência para as construtoras tradicionais, aumentando as vendas e reduzindo custos", diz Bruno Loreto, cofundador da Terracotta. 

"Outra vertente é o uso de ferramentas como a inteligência de dados e os algoritmos de inteligência artificial dentro das empresas, tornando-as mais competitivas para o mercado”, afirma Bruno.

A própria Terracotta também é parte da nova onda: o empreendimento surgiu com o objetivo de levantar investimentos de venture capital para construtechs e proptechs, acelerando a criação de novas tecnologias e fomentando o empreendedorismo. "São esses dois elmentos que podem dar ao mercado da construção a inovação necessária para sair da crise", diz Bruno. 

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Criada em 2016, a omni-eletrônica desenvolve sistemas de sensores para monitoramento de ambientes em edifícios inteligentes, os smart buildings. Com a tecnologia, é possível monitorar o consumo de energia, o nível de ruído, a iluminação e até mesmo o fluxo de pessoas em cada espaço.

Em hospitais, por exemplo, é possível fazer o controle da qualidade do ar; nos shoppings, o sistema rastreia a jornada do consumidor. O equipamento combina sensores sem fio, soluções da internet das coisas (IOT), inteligência artificial e big data. “Sabendo como os espaços são utilizados, conseguimos fazer com que as pessoas interajam de forma diferente com o ambiente”, diz Arthur Aikawa, CEO da omni.

Há pouco mais de um ano e meio em atividade, a Mora foi fundada com o objetivo de reduzir o custo das moradias nas grandes cidades. “Muitas vezes, o nível de renda das pessoas impede que elas morem nos melhores bairros”, diz Arthur Norgren, fundador da startup. A empresa quer oferecer apartamentos modulares pré-fabricados para locação em locais com alta incidência de comércio, serviços e empregos.

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Interior de um dos apartamentos pré-fabricados da Mora (Foto: Divulgação)

Interior de um dos apartamentos pré-fabricados da Mora (Foto: Divulgação)

“Queremos fornecer uma alternativa a quem hoje gasta três ou quatro horas por dia em trânsito, porque não consegue pagar um imóvel acessível perto do trabalho”, diz Norgren. Os apartamentos de 20m² já saem “prontos” da fábrica em Vargem Grande Paulista (SP): depois, são reunidos em edifícios 'montados' pela empresa, em um processo mais rápido do que acontece nos empreendimentos tradicionais. 

Os imóveis são equipados com IOT para reduzir custos operacionais e gerar mais eficiência. Para garantir a sustentabilidade, o processo de fabricação usa pouca água e tem o nível de resíduos reduzido em até 150 quilos por metro quadrado construído. A empresa espera inaugurar o primeiro prédio no bairro Vila Madalena, em São Paulo, nos próximos 3 meses.

Para trazer a técnica das impressões 3D para a construção civil, a startup catarinense Domus3D criou um robô que promete construir uma casa de quatro cômodos, com aproximadamente 100 metros quadrados, em apenas 15 horas.

O robô, chamado de Domus, consiste em uma torre com um braço articulável que imprime ao redor de si, cobrindo uma área de 14 metros de diâmetro e 3,5 metros de altura. Após imprimir uma camada, o braço articulável é elevado para a impressão da camada superior. “Já temos cinco robôs prontos para uso. Mas o principal objetivo não é só vender o robô, e sim lançar o conceito como uma prestação de serviço para as construtoras”, conta Fernando Grin, CEO da startup.

Na opinião de Bruno Loreto, da Terracotta Ventures, o maior desafio das construtechs é transformar um setor tradicional, dependente do cenário econômico favorável e de políticas governamentais, que definem o investimento em obras públicas e programas de habitação. “Muitas startups devem encerrar suas atividades ou quebrar nos próximos anos”, diz. “Mas isso faz parte do aprendizado."

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