Inteligência artificial da NVIDIA (NVDC34) vai acelerar busca por medicamentos

A multinacional é a maior fornecedora de chips usados em centrais de processamento de dados para treinamento de sistemas de IA

Mariana Amaro Wesley Santana

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A NVIDIA (NVDC34) anunciou, nesta terça-feira (21), um sistema de inteligência artificial generativa que tem potencial para auxiliar a indústria farmacêutica na busca por novos medicamentos. O serviço BioNeMo foi criado para acelerar os processos mais demorados e custosos da linha de pesquisa de novas drogas, com base em documentos já publicados por pesquisadores.

Na prática, o serviço trabalha para identificar potenciais moléculas e projetando compostos que possam vir a funcionar no tratamento de doenças. A AI faz análises de banco de dados que incluem moléculas, proteínas, sequências de DNA e RNA

Para Kimberly Powell, vice-presidente de saúde da NVIDIA, a inteligência artificial é uma enorme promessa para a ciência e para a indústria farmacêutica. Por isso, a NVIDIA tem mantido uma longa colaboração com os pesquisadores e desenvolveu o BioNeMo Cloud Service, que já está sendo usado por alguns laboratórios.

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Um dos primeiros acordos fechados foi com a norte-americana Amgen, que foca na produção de remédios para doenças de difícil tratamento. Além do importante papel que tem na descobertas de drogas contra os vários tipos de câncer, a empresa também vende medicamentos contra insuficiência renal e artrite reumatóide.

“O BioNeMo está acelerando drasticamente nossa abordagem para a descoberta de produtos biológicos”, avaliou Peter Grandsard, diretor executivo do Centro de Aceleração de Pesquisa por Inovação Digital da Amgen. “Com ele, podemos ‘pré-treinar’ grandes modelos de linguagem para biologia molecular nos dados proprietários da Amgen, permitindo-nos explorar e desenvolver proteínas terapêuticas para a próxima geração de medicamentos que ajudarão os pacientes”.

Outro parceiro da NVIDIA, a chinesa Insilico Medicine criou uma molécula para Fibrose Pulmonar Idiopática (FPI) em um terço do tempo que levaria normalmente e com um custo bem mais baixo, de US$ 500 milhões por US$ 50 milhões. O potencial medicamento está na fase pré-clínica e em breve pode começar a ser testado em humanos, conforme destaca a empresa criadora.

“Realizamos todos os experimentos necessários de validação de células humanas, tecidos e em animais para reivindicar um candidato pré-clínico de primeira classe para um novo alvo panfbrótico, atualmente em preparação para o desenvolvimento clínico. Fizemos ambas as descobertas em uma fração do tempo e do custo dos fluxos de trabalho tradicionais de pesquisa farmacêutica, mas, o mais importante, teve sucesso em um processo em que a probabilidade de falha em biologia e química é superior a 90%”, diz a Insilico.

Resultados

No quatro trimestre fiscal, encerrado em janeiro de 2023, a empresa reportou um lucro líquido de US$ 1,41 bilhão – uma queda de 53% na comparação com o ano anterior – e as vendas caíram 21% na mesma comparação. Mesmo assim, o resultado ficou acima do que Wall Street esperava, o que se refletiu nas ações da companhia.

A multinacional de tecnologia é a maior fornecedora de chips usados em centrais de processamento de dados para treinamento de sistemas de Inteligência Artificial – uma de poucas áreas em que as empresas de tecnologia ainda estão investindo em meio a uma onda de cortes de empregos no setor. “A IA está em um ponto de inflexão, preparando-se para ampla adoção em todos os setores”, diz Jensen Huang, fundador e CEO da NVIDIA. “Desde startups até grandes empresas, estamos vendo um interesse acelerado na versatilidade e capacidades da IA generativa.”

A explosão da adoção da tecnologia desde o lançamento e viralização do ChatGPT foi um dos fatores que impulsionou o preço das ações da empresa em quase 80% neste ano. Em comparação,  o Nasdaq Composite Index subiu 11,5% no mesmo período.

Com valor de mercado de US$ 650 bilhões, superior a empresas mais populares, como a Meta ([ativo=META34]), dona do Facebook, a NVIDIA cresceu expandiu sua atuação em 2022 e pretende seguir este caminho em 2023. “Hoje, somos muito atuantes em diversos mercados, do petróleo e energia até varejo e telecom”, diz, em entrevista ao InfoMoney, Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da NVIDIA para América Latina.

Para este ano, afirma Aguiar, o foco estará no desenvolvimento de novos hardwares que consumam menos emergia. “Estamos vendo um boom de processamento de linguagens naturais e os dispositivos estão mais inteligentes e interativos, com reconhecimento de fala e tradução de texto. Tudo isso precisará ser processado de forma eficiente porque esbarramos, no mundo, com oferta de geração de energia”, resume Aguiar.

Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da NVIDIA para América Latina

Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da NVIDIA para América Latina (Foto: Divulgação)Para o executivo, boa parte do trabalho da gigante de tecnologia passa despercebido da maior parte dos consumidores. “Estamos espalhados por todos os lugares: temos uma parceria com a própria Bovespa para monitorar preços de ações, por exemplo. Também estamos por trás da oferta de poder computacional da maior parte dos sites que as pessoas visitam no dia-a-dia, do painel digital de carros e dos provedores de computação em nuvem”, enumera.

Aguiar também explica a queda na receita e nas vendas. “Tivemos uma demanda abaixo da expectativa, passamos por uma crise e escassez de chips, que afetou, principalmente, a área de games. Em compensação, nossa divisão corporativa cresceu”, afirma.

Mariana Amaro

Editora de Negócios do InfoMoney e apresentadora do podcast Do Zero ao Topo. Cobre negócios e inovação.